Era uma vez…

… … uma passarinha que havia voado por todo o mundo em busca do paraíso. 

Depois de ver tanta beleza, decidiu construir um ninho entre as tortas árvores do Cerrado e o infinito céu do Planalto Central, pois a vastidão daquele espetáculo a fez sonhar com os lindos vôos que ali faria.

Mas a terra estava árida e parecia sem vida – o bicho humano havia destruído a paisagem pensando em riquezas. A passarinha sofria sem entender, achava que a verdadeira riqueza era justamente 

o verde cenário com suas delicadas flores, 

a brisa que traz a chuva e faz a mata dançar, 

a seriema gargalhando ao amanhecer.

Decidida a compreender porque o bicho humano comete loucuras a buscar felicidade nas coisas que ele mesmo inventa, criou ao seu redor uma gaiola feita de firmes cordões de pensamentos.

Naquela época, tinha um canto fraco e triste, como o de seus irmãos presos em gaiolas concretas na cidade. Foi quando conheceu falcões que voavam nas mais altas montanhas e lhe contaram ensinamentos milenares que falavam como

se enxergar nas folhas de todas as árvores, 

cantar melodias divinas que nascem no coração,

se escutar no silêncio das profundezas do rio, 

voar do penhasco com confiança e elegância.

Com amor e dedicação, lavou seu coração e regou a terra. 

O mundo ao seu redor se regenerou: o pasto virou bosque e o mais belo coral de pássaros canta todos os dias, 

uma gota de esperança 

tão delicada e intensa…

… um segredo quase escondido no meio do mundo caos.

Quando a passarinha entendeu que essa vida não foi feita pra entender nada, descobriu que ela mesma já era o paraíso que tanto buscava… 

Sua mente que criara a prisão, criou também longas asas para que pudesse voar pelo horizonte, desfrutando o colorido do sol poente e sabendo que, na realidade, 

o sol nunca se põe…