Dança das folhas
Madrid convidou e a passarinha voltou para mais uns dias, pois queria tempo e espaço para compreender o vento que se ouriçou com a longa viagem num lugar mais relaxado.
Sua professora de canto, uma sábia sabiá, sugeriu que fosse dançar com as folhas para
sair um pouco da
mente que quer entender
o que não há para entender,
só para sentir.
Então nada como uma boa dose de arte e natureza para invocar a beleza visível do mundo, com um pouquinho de cidade grande para distrair.
Saindo da capital, voou para Zaragoza, uma grande cidade no nordeste da Espanha, próxima aos Pirineus, cadeia montanhosa que separa o país da França. Fundada há mais de 2.000 anos pelo Império Romano com o nome de Caesaraugusta, tem ruínas das edificações típicas de um importante centro econômico desta época: muralhas, banhos públicos, teatros, fórum e templos.
No século VIII, foi capital de uma das divisões militares da conquista árabe na Península Ibérica, o al-Andaluz e no século XII foi conquistada pelos cristãos, quando se tornou capital do Reino de Aragão.
Na paisagem arquitetônica de hoje, estas presenças são bem simbolizadas pela Catedral Basílica Nossa Senhora do Pilar, de arquitetura barroca, e o Palácio da Aljafería, que servia como residência fortificada do governante, um dos mais belos exemplos da arquitetura hispano-muçulmana.
Cidade tranquila, sem vocação para ser metrópole ambiciosa como Madrid ou Barcelona, um encanto comedido às margens do rio Ebro que se enche de vida com os mercados de Natal.
No mundo interno, a clareza começou a assentar graças à constância das meditações, cantos e orações, instrumentos que a passarinha usa para manter a observação do rio de pensamentos.
Uma das habilidades da mente é fluir entre passado, presente e futuro, o que nos ajuda a ser eficazes no mundo ao usar experiências passadas para prever futuras. Pode nos garantir a sobrevivência, mas quando utilizada na hora ou ocasião errada, pode nos trazer muita angústia e ansiedade ao nos levar a viver em tempos nos quais nada é possível ser feito.
A maior parte das coisas que nos fazem sofrer nem existem
já reparou?
O presente é o único momento que existe.
Por isso ele é um presente.