A Cidade das Três Culturas

– O que há de mais bonito para se ver em Toledo?

– Apenas permita se perder pelas ruas de pedras e a beleza te encontrará a todo momento. 

Margeada pelo rio Tajo e protegida naturalmente em uma colina, Toledo está no centro da Península Ibérica, excelente ponto de referência para as rotas comerciais da antiguidade. Os achados arqueológicos dos primeiros assentamentos humanos no “casco antiguo”, a parte histórica da cidade, datam da Idade do Bronze (5.000 anos atrás).

Com um magnetismo que no século XXI parece natural, muitos povos a subjugaram e desfrutaram a fartura proveniente desta localização privilegiada – foi objeto de cobiça de romanos, visigodos, muçulmanos, cristãos e hoje, de turistas. 

Entre pedras e ladrilhos, as páginas estão abertas para quem quiser ler esta longa história em suas paredes sem reboco, que mudam de aparência conforme o bairro e a religião que o predomina – daí a alcunha “cidade das três culturas”: Islamismo, Judaísmo e Cristianismo.

Dom Quixote passou por lá e viu mesquitas, sinagogas e catedrais.

E passarinha viu também espadas medievais e joalheria damasquinada – artesanato típico que incrusta fios e lâminas de ouro em placas de metal com entalhes intrincados, especialmente de geometria sagrada islâmica – pura beleza que expressa a perfeição presente em tudo que Alá criou.

Aí permitiu se perder, levada a serpentear nas estreitas ruas de pedras pelo doce aroma do marzipan de amêndoas e mel – um notável coadjuvante neste espetáculo. As casas, tão antigas que vibram de energia ancestral mesmo na placidez do fim do outono, culminam em uma fina faixa azul de céu.

Na cadência destes encantos, por vezes se entregava com tanta intensidade que esquecia quem É, a voar mais longe do que dá conta e perdendo o rumo de si mesma, 

enfeitiçada

Ao se identificar com o mundo externo, transitório, surgem as emoções e encara medos, apegos e aversões no espelho.

O que cada emoção tem a ensinar?

Consegue enxergar?

Noutras vezes, resiste ao vento que bagunça os pensamentos, o peito aperta achando estranho vivenciar tantas belezas sozinha, sente vontade de ter raízes ao invés de asas e questiona até o que dizia o céu quando nasceu nesta vida de passarinha… 

Quantas vezes você já quis ser diferente do que é?

Para, fecha os olhos e inspiraexpirainspiraexpirainspiraexpirainspiraexpira.observa.inspiraexpirainspiraexpira

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inspira

expira

observa

inspira

expira

observa

inspira

observa

expira

E como resposta, sempre o silêncio.

Onde tudo se dissolve.

Quando passa a ventania, abre os olhos. 

Lembra que, para voar, as aves precisam ser como o ar, 

leve 

seco 

sutil

frio

instável 

na vastidão do espaço, se move livremente e assim gera agitação, criação. 

Sua beleza é essa sensibilidade meio rebelde.

Lembra de ter intimidade com a realidade tal qual ela é.

De que está tudo certo do jeito que está. 

Lembra que é normal ter momentos de ventania e, melhor do que resistir e tentar se agarrar a algo, é manter os olhos bem abertos para se soltar com consciência, como fazem os filhotes de águia.

E que só é possível fazer isso quando há verdadeira presença.

Lembra do que lhe ensinou o mestre:

“O fim da história não é sua cura

O fim da história é você assumir a pessoa que você é

E entender que Eu estou com você.

Você não vai se tornar perfeita

E na sua imperfeição, você não está sozinha – Estou com você.

Comece a entregar suas ações neste altar que Sou Eu”

A passarinha permite se perder para aprender a voltar a si mesma.